Desde o seu nascimento, os habitantes atuais destas aldeias são introduzidos numa série de relações mediante as quais obtêm alimento, roupa e refúgio; simbolizam as transições mais fortes no seu percurso vital, transformam o seu próprio entorno com trabalhos e ferramentas, unem, separam, cuidam e enxertam plantas domesticadas e silvestres, intercambiadas e selecionadas; semeiam sementes escolhidas, em hortas, em terras de lavrar e jardins; engalanam altares e lares; rogam proteção contra tormentas, energizam e purificam com vapores, fumos e banhos; jogam com fibras, madeiras, frutas e flores, construindo-se a si mesmos e ao seu lugar no mundo.

Ao longo do ano de 2019, realizaram-se nas aldeias de Várzea de Calde e Cabrum uma série de entrevistas a habitantes que nasceram entre as décadas de 1930 e de 1990, homens e mulheres, com o objetivo de conversar sobre os diversos vínculos existentes com o mundo vegetal, os quais se desenvolveram ao longo do tempo. Partindo deste objetivo, editaram-se uma série de relatos que se colocam agora à disposição do público. Estes são parte de uma trama que designamos por arquivo, na qual se relacionam, através da tecnologia digital, memórias individuais, familiares e coletivas enraizadas no mesmo território.

O projeto PLANTAS FALADAS: ARQUIVO DE MEMÓRIA VEGETAL foi concebido para o Museu do Linho de de Várzea de Calde e partiu do conceito de arquivo, refletindo sobre a conjugação possível entre um catálogo de documentos arquivados e a presença evocadora de elementos materiais, de plantas, de imagens e de sons ligados ao universo das plantas.

Este projeto é dedicado aos que dormiram em colchões de palha de centeio, aos que vestiram e vestem alguma roupa de linho, aos que pensam no que comem, aos que escolhem o que comem ou comem o que podem, a todos aqueles que suaram e deixaram de dormir para produzir alimentos para a sua família e seus animais, aos que conservam uma ferramenta ou um móvel feito por algum familiar, aos que passaram frio, calçaram tamancos, construíram os seus próprios brinquedos, se comoveram contemplando a paisagem que habitam, roubaram uma flor ou não esquecem um aroma.

Agradecemos especialmente a António Santos, Emília Bernardino, Herculano Gonçalves, Isabel Filipe, Joaquim Gaspar, Laura Filipe, Leonel Oliveira, Lorena Vicente, Lúcia Ferreira, Manuela Correia, Maria Cidália Santos, Mariana Campos, Mariyam Ali, Miquelina Campos, Virgínia Maurício e todo o apoio prestado pela equipa do Museu do Linho de Várzea de Calde.

DOCUMENTOS EM ARQUIVO